Jânio tinha o senso do espetáculo na política. Não hesitava, num comício, em simular desmaios de fome, tomar injeção para recuperar forças, vestir terno velho, de ombros estrategicamente salpicados por um pó que dizia ser caspa, usar gravata torta, sentar no meio-fio para comer sanduíche de mortadela e bananas – queria ser percebido visualmente como parte da população pobre, trabalhadora, sofrida. Subia nos palanques, magro, colérico e desleixado, gesticulando muito, brandindo uma vassoura nas mãos e, modulando o tom de voz, propunha uma varredura moral e administrativa no Brasil. Usava de uma linguagem empolada, cheia de termos em desuso, escandia as sílabas das palavras, e deixava a multidão boquiaberta com sua grandiloquência professoral e pernóstica – às vezes ninguém entendia
nada, mas Jânio sabia a ocasião exata em que dizia o que todos queriam ouvir.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p.430.
Nas eleições presidenciais de 1960, o cenário econômico brasileiro, ao final do governo de Juscelino Kubitschek, de inflação em alta, desvalorização monetária e aumento do custo de vida levou à derrota do candidato por ele apoiado. Saiu vitorioso o candidato do Partido Trabalhista Nacional (PTN), Jânio Quadros, que prometia varrer a corrupção que afirmava assolar o país. Carismático e controvertido, entre as medidas polêmicas que tomou em seu curto mandato de 31 de janeiro a 25 de agosto de 1961 como presidente da República, podemos citar, exceto