Questão
Universidade de Brasília - UNB
2014
Fase Única
Joa-Roma-foi-treze-aos2893ee34433
João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro de Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro.

Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida arranjava-lha, mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua vizinha, a Bertoleza, crioula trintona, escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e amigada com um português que tinha uma carroça de mão e fazia fretes na cidade.

Bertoleza também trabalhava forte; a sua quitanda era a mais bem afreguesada do bairro. De manhã vendia angu, e à noite peixe frito e iscas de fígado; pagava de jornal a seu dono vinte mil réis por mês e, apesar disso, tinha de parte quase que o necessário para a alforria. Um dia, porém, o seu homem, depois de correr meia légua puxando uma carga superior às suas forças, caiu morto na rua, ao lado da carroça, estrompado como uma besta.

Aluísio Azevedo. O cortiço. In: Internet: <www.dominiopublico.gov.br>.

Com base na obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo, e no fragmento dela extraído apresentado acima, julgue o item.

Considerando o fragmento de texto apresentado acima e os aspectos históricos do período do Brasil imperial, assinale a opção correta.
A
Ao descrever a rotina profissional da personagem Bertoleza, Aluísio Azevedo ilustrou uma situação típica da economia rural do Oeste paulista oitocentista.
B
O texto dá testemunho de que, no século XIX, após a emancipação do Brasil, os portugueses, insatisfeitos com a situação política, deixaram de participar da vida cotidiana das grandes cidades brasileiras.
C
Nas grandes cidades do Brasil oitocentista, pequena parte da população escrava foi capaz de abrir e manter pequenos negócios e, assim, acumular recursos financeiros suficientes para a compra da própria liberdade.
D
As interações entre as personagens mencionadas no trecho apresentado evidenciam que, no Brasil da segunda metade do século XIX, inexistiam relações sociais entre pessoas de distintas origens étnicas e culturais.