Questão
Universidade Nove de Julho - UNINOVE
2014
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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João saiu do hospital para morrer em casa – e gritou três meses antes de morrer. Para não gastar, a mulher nem uma vez chamou o médico. Não lhe deu injeção de morfina, a receita azul na gaveta. Ele sonhava com a primavera para sarar do reumatismo, nos dedos amarelos contava os dias.

– Não fosse a umidade do ar… – gemia para o irmão nas compridas horas da noite.

Já não tinha posição na cama: as costas uma ferida só. Paralisado da cintura para baixo, obrava-se sem querer. A filha tapava o nariz com dois dedos e fugia para o quintal:

– Ai, que fedor… Meu Deus, que nojo!

Com a desculpa que não podiam vê-lo sofrer, mulher e filha mal entravam no quarto. O irmão Pedro é que o assistia, aliviando as dores com analgésico, aplicando a sonda, trocando o pijama e os lençóis. Afofava o travesseiro, suspendia o corpinho tão leve, sentava-o na cama:

– Assim está melhor? 

Chorando no sorriso, a voz trêmula como um ramo de onde o pássaro desferiu o voo: 

– Agora a dor se mudou… V

igiava aflito a janela: 

– Quantos dias faltam? Com o sol eu fico bom. 

Pele e osso, pescocinho fino, olho queimando de febre lá no fundo. Na evocação do filho morto, havia trinta anos: 

– Muito engraçado, o camaradinha – e batia fracamente na testa com a mão fechada. – Com um aninho fazia continência. Até hoje não me conformo. 

(In: Alfredo Bosi. O conto brasileiro contemporâneo, 1975.)

O texto explora o emprego do diminutivo para indicação da diminuição do tamanho dos seres, como em corpinho e pescocinho. Em camaradinha e aninho, porém, a função do diminutivo é ressaltar
A
a necessidade de se colocar abaixo dos semelhantes.
B
uma espécie de deboche, em face da singeleza das coisas.
C
a ideia da pequenez das coisas relativas a um doente.
D
um valor afetivo, exprimindo sentimentos e emoções.
E
a evidente inutilidade dos elementos nomeados.