Questão
Universidade Federal de Uberlândia - UFU
2008
1ª Fase
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José Saramago, autor de Ensaio sobre a cegueira, possui um estilo inconfundível de narrar, isto é, em suas obras percebe-se um conjunto de traços formais que são peculiares ao autor, conforme se verifica no trecho seguinte.

... Quando foi que cegou, Ontem à noite, E já o trouxeram, O medo lá fora é tal que não tarda que comecem a matar as pessoas quando perceberem que elas cegaram, Aqui já liquidaram dez, disse uma voz de homem, Encontrei-os, respondeu o velho da venda preta
simplesmente, [...] A partir deste ponto, salvo alguns soltos comentários que não puderam ser evitados, o relato do velho da venda preta deixará de ser seguido à letra, sendo substituído por uma reorganização do discurso oral, orientada no sentido da valorização da informação pelo uso de um correcto e adequado vocabulário. [...] Má para toda a gente, a situação, para os cegos, era catastrófica, uma vez que, segundo a expressão corrente, não podiam ver aonde iam nem onde punham os pés. Dava lástima vê-los esbarrar nos carros abandonados, um após outro, esfolando as canelas, alguns caíam e choravam, Está aí alguém que me ajude a levantar, mas também os havia, brutos de desespero ou por natureza, que praguejavam e repeliam a mão benemérita que acudira a auxiliá-los, Deixe lá que a sua vez também lhe há-de chegar, então a compassiva pessoa assustava-se, fugia, perdia-se na espessura do nevoeiro branco, subitamente consciente do risco em que a sua bondade a tinha feito incorrer, quem sabe se para ir cegar uns metros adiante.

Assim estão as coisas lá fora, rematou o velho da venda preta, e ainda eu não sei tudo, só falo do que pude ver com os meus próprios olhos [...] Com os meus olhos, não, porque só tinha um, agora nem esse, ...

Com base neste trecho de Ensaio sobre a cegueira, marque a alternativa que foge ao estilo do autor .
A
Ao lançar mão de diálogos e intervenções do narrador, fundindo-os em uma linguagem ora coloquial ora pomposa, o autor cria um ritmo fluente, que se aproxima da oralidade, o que é característico de suas narrativas moralizantes.
B
O autor cria um narrador em terceira pessoa, onisciente, que, além de comentar os acontecimentos, também faz ponderações sobre o ato de narrar, observando que há distinção entre o discurso espontâneo e o construído.
C
Para acompanhar o tom trágico do tema, a cegueira, o autor elege um discurso lírico-melancólico, de tonalidade introspectiva, que despreza o traço humorístico, uma de suas marcas.
D
Ao empregar um estilo que privilegia frases longas, parágrafos infindáveis e um uso bastante peculiar dos sinais de pontuação, o autor se distancia dos padrões narrativos comuns.