LEIA OS TEXTOS 01 E 02, PARA RESPONDER À QUESTÃO.



O texto 01 é um excerto do relatório que expõe dados da pesquisa intitulada "Tolerância à violência contra as mulheres", realizada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). O IPEA, conforme dispõe em seu sítio institucional, "é uma fundação pública federal vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Suas atividades de pesquisa fornecem suporte técnico e institucional às ações governamentais para a formulação e reformulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiros".
O texto 02 foi publicado no blog"NegroBelchior" no dia 25 de junho de 2014, vinculado à revistaCarta Capital. O blog "Negro Belchior", conforme dispõe em sua janela "sobre o blog" é mantido por Douglas Belchior, professor formado em História na PUC/SP, educador nos cursinhos comunitários da Uneafro-Brasil e militante do movimento negro em SP. "O espaço propõe-se a refletir e discutir temas do cotidiano, analisar coberturas da imprensa, divulgar eventos e ações do movimento negro e movimentos populares".
TEXTO 1
[...]
Diante da frase "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas", a maioria dos/as entrevistados/as afirmou discordância. Residentes no Sul/Sudeste, jovens e pessoas com educação média e superior apresentavam chances ainda menores de concordar com a afirmação.
No entanto, a assertiva que traz o termo "estupro" explicitamente e que apresenta a ideia de culpabilização da mulher de maneira mais evidente - "se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros" - encontrou um alto grau de concordância, 58,5%. (BRASIL, 2014, p. 22).
[...]
Fonte: http://www.ipea.gov.br/. Acesso em 10 de agosto de 2014.
TEXTO 2
Luciano Huck se envolve em polêmica sobre turismo sexual negrobelchior / 25 de Junho de 2014
Por Douglas Belchior
1. O apresentador Luciano Huck, da TV Globo, publicou em suas redes sociais nesta terça-feira, 24, a chamada a seguir, que foi interpretada por muitos de seus seguidores como um estímulo ao turismo sexual no Rio de Janeiro.
2.

3. Huck postou o mesmo texto em seu Facebook e conseguiu mais de 22 mil curtidas e quase 3 mil compartilhamentos, segundo o Blog do Julio Hungria,antes de ser retirado do ar algumas horas depois.
4. A grande crítica feita ao conteúdo dos posts é que ele vai na contramão dos esforços de governantes e organizações de direitos humanos, e Luciano Huck não parece preocupado em garantir o fim do turismo sexual no Brasil.
[...]
5. Como resposta à pressão de movimentos sociais e de direitos humanos preocupados com a exploração do turismo sexual, especialmente no período da Copa do Mundo, a presidenta Dilma Rousseff usou seu perfil no Twitter para reafirmar que o Ministério do Turismo, a Secretaria de Política para as Mulheres e a Secretaria de Direitos Humanos estão firmes no combate à exploração sexual durante o evento.

7. Uma questão que surge é que, como a chamada foi veiculada em um de seus sites institucionais, é preciso avaliar o grau de responsabilidade que a Rede Globo tem sobre esse tipo de conteúdo. Até por se tratar de um de seus principais expoentes.
8. Apesar das manifestações e do dito "aperto" dos governos às ações de promoção ao turismo sexual, não faltam exemplos de provocações e chamarizes públicos aos visitantes que vão muito além dos gramados e dos craques de cuecas.
9. Espera-se que os governos e suas autoridades se manifestem e cobrem responsabilidades. A omissão neste caso reforça a ideia de mais um lamentável legado da Copa: a tolerância e a conivência ao turismo sexual e à violência contra as mulheres.
10.

fonte: http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/06/25/luciano-huck-envolvido-em-polemica-de-turismo-sexual/
Analise os dois enunciados elaborados pelo IPEA e dirigidos a seus entrevistados e assinale a única alternativa que contempla todo o conjunto de afirmações verdadeiras, no que se refere às possíveis leituras corroboradas pela análise de aspectos linguísticos:
a) mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas;
b) se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros"
1) No enunciado a, especifica-se, a partir da oração subordinada adjetiva restritiva, o tipo de mulheres (apenas as que usam roupas que mostram o corpo) e, posteriormente, afirma-se que estas devem ser atacadas. O efeito dado pela declarativa afirmativa pode colaborar para que o entrevistado assuma uma posição de concordância ou de discordância com essa declaração, de imediato, por ela ser bem específica e não ser ambígua.
2) No enunciado b, uma hipótese é levantada. Esse efeito de hipótese pode ser observado tanto a partir do uso da oração subordinada adverbial condicional, quanto a partir das formas verbais no imperfeito do subjuntivo (se soubessem), e do futuro do pretérito (haveria). A hipótese levantada deixa entrever que as mulheres que sofrem estupro não sabem se comportar. Por isso, é possível dizer que, de alguma forma, o enunciado recupera um discurso machista para apresentá-lo ao entrevistado.
3) O uso da vírgula no enunciado b separa duas orações, demarcando onde termina uma condição e onde se inicia uma afirmação hipotética.
4) No predicado verbal "merecem ser atacadas", a forma verbal "merecem", cujo sentido requer um complemento positivo ou negativo (quem merece, merece prêmio ou punição) é completada pelo particípio "ser atacadas". Quem é atacada, é atacada por um agente. Se esse agente pratica uma ação contra alguém que merece, isso lhe tira, em parte, a culpa. Essa é uma leitura possível que confirma a existência de um discurso machista, que põe na mulher a culpa por ser estuprada.
5) A partir dos enunciados elaborados pelo IPEA é possível afirmar que o Instituto parece querer verificar se o entrevistado concorda ou não concorda com o discurso machista corrente na sociedade sobre a violência contra a mulher.