LIDA
nesse dia mesmo
em que se é pura perda
em que se sofre saques e ludíbrio
catar os cacos
porque seguem tendo a mesma feição do todo
ajuntar migalha e estilhaço
e conjugar em modo subjuntivo
porque se quer depurar o que nos diz
o exórdio das rosas de inédito semanticismo
e não se pode demorar tempo
porque instaura-se um limo impeditivo
e mirram-se asas e expiram voos
e não se queira demorar tempo
porque precisa-se de quem cuspa firme à distância
de quem preste-se a ter os pés queimados pela brasa
de quem espane o logro dos discursos ferrugentos
e delate a rigidez das pétalas dissimuladas
de quem cutuque de quem esgaravate
porque nesse dia mesmo
não se pode mais tomar como acalanto
a ode espúria dos cínicos
e não se pode mais tingir de falso rubro
o fundamento do sangue
e não se pode permitir que façam gorar
a pulsão apta e evoluída
flórea e vigorosa
do verso
COLLIN, Luci. A rosa que está. São Paulo: Iluminuras, 2019 (p. 11).
Entendendo que o título do poema estabelece uma ambiguidade, a sua leitura – se relacionada ao sentido global do poema – pode ser considerada como: