Questão
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS
2017
Fase Única
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Leia atentamente o soneto de Claudio Manuel da Costa, a seguir:

Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo,
Porás a ovelha branca, e o cajado;
E ambos ao som da flauta magoado
Podemos competir de extremo a extremo.

Principia, pastor; que eu te não temo;
Inda que sejas tão avantajado
No cântico amebeu: para louvado
Escolhamos embora o velho Alcemo.

Que esperas? Toma a flauta, principia;
Eu quero acompanhar-te; os horizontes
Já se enchem de prazer, e de alegria:

Parece, que estes prados, e estas fontes
Já sabem, que é o assunto da porfia
Nise, a melhor pastora destes montes.

Nota-se, no soneto, em questão a proposição do eu lírico de uma cena em que se apresentam os elementos (a sanfona, a ovelha branca, o cajado, o pastor) e um cenário (os prados, as fontes). Às imagens, somam-se, virtualmente, os sons evocados pelo poema, materializados pelas rimas finais empregadas, mas também evocados pelos instrumentos musicais. Todo esse arranjo visa a uma discussão (porfia) cujo assunto é Nise, para os quais os horizontes já se enchem de prazer e alegria. Essa composição exemplifica:
A
A construção de um locus amoenus, em clara relação ao aspecto bucólico materializado na imagem dos prados e dos pastores.
B
A construção de uma poesia sinestésica, ao criar imagens que cruzam os sentidos do paladar e do olfato aos da visão.
C
Ao uso de construções truncadas, em alusão às convulsões próprias do amor romântico, cujo idealismo se materializa em Nise.
D
Ao cavalheirismo medieval, presente na contenda pela amada, que provoca a porfia “de extremo a extremo”, como índice da retomada de temas da antiguidade clássica.
E
O amor carnal, materializado metaforicamente por meio dos instrumentos musicais, como recurso do eufemismo que sintetiza a estética neoclássica.