Questão
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE
2024
1ª Fase
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Leia com atenção os dois registros de batismo abaixo:

1812 – Folha 12.

LUCIANNO - antes denominado COUÊ

Aos vinte e sinco dias do mes de setembro do anno de mil oitocentos e doze, na Capella desta Povoação do Atalaya nos Campos de Guarapuava, baptisei e pus os santos oleos a LUCIANNO, antes denominado Couê, parvulo de dous annos pouco mais ou menos, filho de Guequeío, e de sua mulher Mofê, Indios nacionais da gentilidade, que habita os sertoens deste continente, de onde a pouco tempo sahirão para esta Povoação. Foi Padrinho Tenente Manuel Soares do Valle, casado, e aSsistente nesta Povoação. Do que para constar faço este aSsento.

O vigário Francisco das Chagas Lima

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1821 - Folha 51

ANNA - India

Aos vinte sinco dias do mes de Julho do anno de mil oitocentos e vinte e um, nesta Capella da Aldea do Atalaya em Guarapuava, baptisei solemnemente, e pus os santos oleos, a ANNA, innocente, nascida aos vinte e nove de Junho paSsado, filha de Pai Incognito, e de Felicia Veimocá, India nacional deste continente de Guarapuava, viuva e Neofyta aSsistente nesta Aldea. Forão Padrinhos o Tenente Antonio da Rocha Loures comandante desta Povoação, e sua mulher Joanna Maria de Lima. Do que para constar faço este aSsento.

O vigário Francisco das Chagas Lima

LIVRO DE ASSENTOS DE BAPTISMO DE PESSOAS LIVRES DE NASCIMENTO. n. 1 – Desde 13 de março de 1810 até 4 de setembro de 1867. (Arquivo da Catedral Nossa Senhora de Belém – Diocese de Guarapuava-Pr). In: Brasil, Paraná, Registros da Igreja Católica, 1704-2008 - database with images, FamilySearch, https://familysearch.org/ ark:/61903/3:1:939J-9CCG-S?cc=2177282&wc=MHN8-XWG%3A369753101%2C369753102%2C369946101 : 22 May 2014), Guarapuava > Nossa Senhora de Belém > Batismos 1810, Mar-1867, Set > image 13 of 204 and 52 of 204; Paróquias Católicas, Paraná (Catholic Church parishes, Paraná).

Desde os primeiros contatos dos europeus com os povos ameríndios, no século XVI, o espírito de uma cruzada católica aliado aos processos mercantilistas direcionou muitas das formas de invasão e domínio da América. Fruto de um longo processo de desterritorialização, escravização, mortandades, entre outras mazelas, as populações indígenas sofreram – e ainda vivenciam – uma enorme redução de suas comunidades. Na condição de aliados ou inimigos de etnias, línguas e culturas diversas, os povos indígenas receberam os europeus de diferentes formas, desempenhando múltiplos papéis na construção das sociedades coloniais e pós-coloniais.

Os registros de batismo cotejados acima, ainda que sejam do século XIX, apontam para alguns dos debates em torno do “projeto colonizador”: uma expedição militar com fins expansionista; a delimitação fortificada do território; a catequização como mecanismo etnocêntrico de domínio; e a concepção hierarquizada da sociedade.

Com base nesses apontamentos, considere:

I. Deve-se evitar interpretações simplistas baseadas em dualismos ao retratar as relações de contato entre europeus e povos indígenas. Dualismos como “índio aculturado” versus “índio puro”; aculturação versus resistência cultural, por exemplo. Esses dualismos acabam resultando em abordagens reducionistas que levam a visões equivocadas sobre as ações dos povos indígenas nos processos históricos.

II. Ainda que os grupos indígenas americanos possuíssem diferentes características culturais, os europeus deveriam ser considerados como um grupo homogêneo. Os colonizadores, missionários, bandeirantes, autoridades metropolitanas e coloniais, portuguesas e espanholas, tinham os mesmos interesses nas suas colônias e estabeleciam relações uniformes com os indígenas.

III. As missões e fortificações tinham como objetivo não apenas cristianizar os indígenas (considerando-os gentios administrados), mas também reintegrá-los à sociedade, tornando-os súditos do Rei, ainda que hierarquicamente inferiores. A coroa e a igreja se uniram nesse empreendimento durante todo o período colonial, em especial com os jesuítas, no Brasil, e com a expedição de Francisco Pizarro, no Império Inca. Em ambos, elementos religiosos, políticos e econômicos se entrelaçavam de modo harmonioso.

IV. O batismo, como um sacramento católico, estabelece a inclusão de uma pessoa na comunidade dos fiéis. Os dois registros de batismo evidenciam espaços de dominação sobre os indígenas que, submetidos às novas regras, deixavam suas identidades no ambiente oficial administrativo-religioso, como vemos no caso de Couê, batizado como Luciano. Já quanto a mãe Felícia Veimocá, chama a atenção que o Padre a reconhece como “neófita” (pagã recém-convertida ao cristianismo) e que frequenta a Aldeia. Contudo, o fato de ser viúva e registrar uma filha com pai desconhecido pode indicar uma das interfaces da mestiçagem.

V. Os espanhóis, em domínio e colonização de Potosí, estabeleceram relações econômicas distintas do que se preconizava do Mercantilismo dos séculos XV-XVIII. No Vice-Reino do Peru as parcerias e trocas com os ameríndios se firmavam em contratos denominados “Mita”, cujos proventos da mineração eram divididos de modo igualitário entre as partes. Da fração espanhola, metade era enviada ao Reino em Madrid e a outra parte reinvestida no melhoramento das condições de trabalho dos indígenas na exploração da mina.

Estão INCORRETAS as sentenças:
A
II, III e V.
B
I, IV e V.
C
II e IV.
D
I e V.
E
I, II e IV.