Questão
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
2010
Fase Única
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ANULADA
Leia com atenção os textos abaixo (I e II) e responda.

Texto I:

Incultas produções da mocidade
Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores.
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade e não louvores.

Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração dos seus favores.

E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns, cuja aparência
Indique festival contentamento,

Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.

BOCAGE, Manuel M. B. du. Sonetos. Rio de Janeiro. Ediouro, 1997, p. 31.

Texto II:

Tanto de meu estado me acho incerto

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio,
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.

Se me pergunta alguém por que assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.

Luís de Camões - www.ruadapoesia.com/content/, acessado em agosto de 2009.

Com relação ao sentido global dos dois poemas, pode-se dizer que:
A
Nos dois poemas, o sujeito lírico se dirige ao leitor para revelar seus sentimentos de desânimo, de mágoa, de ressentimento e de contentamento em relação ao mundo e a sua vida.
B
No verso 11, “Crede, ó mortais, que foram com violência”..., a expressão destacada pode ser substituída, sem alterar o sentido do poema, por “Incultas produções da mocidade”.
C
Nos dois poemas, o sujeito lírico se propõe fazer uma reflexão breve sobre a sua produção poética, e sobre a sua dificuldade de expressar em versos os seus mais nobres sentimentos.
D
Na segunda estrofe de cada um dos sonetos, as expressões Fortuna e desconcerto constroem uma imagem metafórica da vida e do amor como uma glória, uma realização incessante.
E
Na última estrofe dos sonetos, o sujeito lírico explica, respectivamente: o sentimento de contentamento em alguns de seus versos, e o motivo das contradições em que vive.