Questão
Fundação Getúlio Vargas - FGV
2019
Fase Única
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Discursiva
Leia com atenção o excerto abaixo:

Quando chegaste mais velhos contavam estórias. Tudo estava em seu lugar. A água. O som. A luz. Na nossa harmonia. O texto oral. E só era texto não apenas pela fala, mas porque havia árvores (...). E era texto porque havia gesto. Texto porque havia dança. Texto porque havia ritual. Texto falado OUVIDO e visto. É certo que podias ter pedido para OUVIR e Ver as estórias que os mais velhos contavam quando chegastes! Mas não! Preferiste disparar os canhões. 

A partir daí, comecei a pensar que tu não eras tu, mas o outro, por me parecer difícil aceitar que da tua identidade fazia parte esse projeto de chegar e bombardear o meu texto. Mais tarde viria a constatar que detinhas mais outra a arma poderosa além do canhão: a escrita. E que também sistematicamente no texto que fazias escrito intentavas destruir o meu texto OUVIDO e visto. Eu sou eu e a minha identidade nunca a havia pensado integrando a destruição do que não me pertence.

Mas agora sinto Vontade de me apoderar do teu canhão, desmontá-lo peça por peça, refazê-lo e disparar não contra o teu texto não na intenção de o liquidar mas para exterminar dele a parte que agride. Afinal assim identificando-me sempre eu/até posso ajudar-te à busca de uma identidade em que sejas tu quando eu te olho/em Vez de seres o outro. (...)

(Comunicação apresentada no Encontro Perfil da Literatura Negra, São Paulo, Brasil, 23/05/1985) Manuel Rui Monteiro, “Eu e o outro – o invasor ou em poucas três linhas uma maneira de pensar o texto”, in Cremilda de Araújo Medina (org.), Sonha Mamana África. São Paulo: Epopeia, 1987, p. 308.

Manuel Rui Monteiro é um escritor nascido em Angola. Participou ativamente do processo de emancipação política em seu país.

a) Aponte e explique duas características do processo de independência em Angola.

b) Explique as diferenças culturais apontadas por Manuel Rui acerca dos dois tipos de texto que se confrontam em Angola.