Leia os dois poemas de Gregório de Matos:
Soneto 1
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em qualquer parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.
Soneto 2
Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ornadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.
Não é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
O prudente varão há de ser no mundo,
Que é melhor neste mundo em mar de enganos
Ser louco cos demais, que ser sisudo.
Com base nos dois sonetos, considere as seguintes afirmativas:
1. A insistência numa das mais conhecidas formas de liricidade, que é o soneto, deixa explícita a influência clássica na obra do poeta.
2. Ambos os poemas ilustram a tonalidade sarcástica e pessimista típica do barroco.
3. No poema 1, há um jogo simbólico de metonímias e paradoxos com os quais o eu lírico argumenta a aceitação da tradição religiosa com indagações renovadoras.
4. No poema 2, o eu lírico faz um balanço de sua experiência existencial, desdenhando sua própria loucura.
Assinale a alternativa correta.