Questão
Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
2009
Fase Única
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Leia os dois textos seguintes e responda à questão.

Dercy Gonçalves, a trágica

Ao Brasil a palavra “infantil” talvez não caiba, mas a Dercy Gonçalves cabe. Ela era infantilizada e infantilizadora. O palavrão era sua arma. Que graça pode haver num palavrão? A mesma de um tombo do palhaço: em princípio, exceto em ocasiões muito inesperadas, nenhuma. Mas as crianças acham engraçado. Igualmente, o palavrão, exceto em ocasiões precisas, não tem graça. Entre Dercy e sua plateia, no entanto, o grande intermediário, a solda, o agente infalível do riso, era o palavrão. “O palavrão... quando virá o palavrão?”, perguntava-se a plateia, ansiosa, quando ele tardava. Dercy Gonçalves sem falar p.q.p. ou filha da p. seria o mesmo que Carmen Miranda sem o turbante e os balangandãs. Dercy não fraudava a expectativa. Se o palhaço não pode deixar de tropeçar, ela não podia deixar de soltar o palavrão. A plateia, tão infantilizada quanto a artista, esbaldava-se.

No Carnaval de 1991, Dercy, aos 83 anos, desfilou pela escola de samba Viradouro com os seios de fora. Faziam-lhe uma homenagem, mas não bastava sua presença. Era preciso fazer o tipo. Como não lhe deram o microfone para dizer palavrões, ofereceu o corpo. Na opinião predominante, foi um gesto bonito e libertário, mas também era possível enxergar ali um momento semelhante ao encenado por Garrincha na mesma avenida, anos antes – um Garrincha inchado e zumbi, exibido como bicho de circo. Identificada à comédia, Dercy também podia ser entendida como personagem de tragédia.

(Veja, 30.07.2008. Adaptado.)

Só mesmo dizendo um palavrão

Dercy não viveu uma personagem. Ela era Dercy até dormindo. E continua sendo após a morte, no samba-enredo entoado em seu enterro e no polêmico túmulo em pé, em forma de pirâmide.

No palco e na vida, ela não gostava de drama. Por isso trocou de nome.

Das dores de Dolores, seu nome de batismo, ela não tinha nada. Aos infortúnios, respondia com irreverência.

(Época, 28.07.2008. Adaptado.)

Comparando o texto da revista Época ao da revista Veja, é possível afirmar que eles 
A
apresentam a comediante como uma figura caricata e bastante frágil. 
B
não apresentam da mesma forma a comediante e a autenticidade de seu humor. 
C
assinalam a precariedade do humor de Dercy, daí o aspecto trágico de sua vida. 
D
convergem no que diz respeito ao perfil trágico da comediante. 
E
apontam para o fato de Dercy ter sido uma encenação, por isso pouco convincente.