Leia o fragmento a seguir, extraído do capítulo VII de Iracema, romance de José de Alencar.
A virgem estremeceu. O guerreiro cravou nela o olhar abrasado:
- O coração aqui no peito de Irapuã ficou tigre. Pulou de raiva. Veio farejando a presa. O estrangeiro está no bosque, e Iracema o acompanhava. Quero beber-lhe o sangue todo: quando o sangue do guerreiro branco correr nas veias do chefe tabajara, talvez o ame a filha de Araquém.
A pupila negra da virgem cintilou na treva, e de seu lábio borbulhou, como gota do leite cáustico da eufórbia¹, um sorriso de desprezo:
- Nunca Iracema daria seu seio, que o espírito de Tupã habita só, ao guerreiro mais vil dos guerreiros tabajaras! Torpe é o morcego porque foge da luz e bebe o sangue da vítima adormecida!
- Filha de Araquém, não assanha o jaguar! O nome de Irapuã voa mais longe que o guaná² do lago, quando sente a chuva além das serras. Que o guerreiro branco venha e o seio de Iracema se abra para o vencedor.
- O guerreiro branco é hóspede de Araquém. A paz o trouxe aos campos do Ipu, a paz o guarda. Quem ofender o estrangeiro, ofende o Pajé.
(ALENCAR, José de. Iracema: lenda do Ceará. Cotia: Ateliê Editorial, 2006, p. 122)
Vocabulário:
¹ eufórbia: planta venenosa.
² guaná: espécie de ave.
Considerando seus conhecimentos a respeito do romance Iracema e sua leitura do fragmento em questão, é possível afirmar que, nesta cena,