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DINA
Dobrado sobre o ventre e com as mãos pendentes para o chão, Madala ouviu a última das doze badaladas do meio-dia. Erguendo a cabeça, divisou por entre os pés de milho a brancura esverdeada das calças do capataz, a dez passos de distância. Não ousou endireitar-se mais porque sabia que apenas devia largar o trabalho quando ouvisse a ordem traduzida num berro. Apoiou os cotovelos aos joelhos e esperou pacientemente.
O sol estava mesmo em cima do seu dorso nu, mas convinha suportar um pouco mais. Contou o tempo pelo número de gotas de suor que lhe pingavam pela ponta do nariz para uma pedrinha que brilhava no chão, a seus pés, e concluiu que o capataz devia estar muito zangado. Voltou a espreitar as pernas a dez passos de distância e viu-as ainda na mesma posição. Alongando a vista para além delas, viu a mancha escura do corpo do Filimone, igualmente dobrado sob a superfície das folhas mais altas dos pés de milho, aguardando a ordem de largar o trabalho.
A dor dos rins era-lhe insuportável, e muito pior agora que já tinha tocado o dina. Quando os músculos do pescoço lhe começaram a doer pela torção a que os submetia, mantendo a cabeça erguida, deixou cair os braços até tocar nas folhinhas carnudas e escorregadias das ervas que devia arrancar. Maquinalmente, apalpou-as para sentir a resistência dura do caule diminuto, entranhou os dedos por entre os raminhos e retesou o corpo. Embora a planta não resistisse grandemente ao empuxão, os tendões da parte posterior da articulação do joelho latejaram-lhe dolorosamente. Depois ergueu a planta para se reanimar com o cheiro forte da terra negra que vinha presa às raízes esbranquiçadas.
Fonte: HONWANA, Luís Bernardo. Nós matamos o Cão Tinhoso! São Paulo: Kapulana, 2017, p.57-58. (fragmento)
A partir da leitura do fragmento do conto Dina do escritor moçambicano Luís Bernardo Honwana, é CORRETO afirmar que o narrador: