Leia o soneto do poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage.
De cima dessas pedras escabrosas¹,
Que pouco a pouco as ondas têm minado,
Da lua com o reflexo prateado
Distingo de Marília as mãos formosas.
Ah!, que lindas que são, que melindrosas²!
Sinto-me louco, sinto-me encantado.
Ah!, quando elas vos colhem lá no prado,
Nem vós, lírios, brilhais, nem vós, ó rosas!
Deuses! Céus! Tudo o mais que tendes feito,
Vendo tão belas mãos, me dá desgosto;
Nada, onde elas estão, nada é perfeito
Oh!, quem pudera uni-las ao meu rosto!
Quem pudera apertá-las no meu peito!
Dar-lhes mil beijos e expirar³ de gosto!
(Manuel Maria Barbosa du Bocage. Poemas escolhidos, 1974)
¹escabrosas: escarpadas.
²melindrosas: delicadas.
³expirar: exalar o último suspiro; morrer.
Na segunda estrofe, o eu lírico dirige-se, mediante vocativos,