Leia a passagem a seguir, retirada de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e analise as afirmativas.
AO LEITOR
Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte e, quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.
Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.
Brás Cubas.
Com base no texto, afirma-se:
I. Nesse capítulo, que serve de introdução ao romance, o narrador adverte seus leitores a respeito de diversos elementos que constituirão a obra, como a forma livre, o diálogo insistente com o leitor, além de relatar o processo extraordinário empregado para a composição do livro no outro mundo.
II. Ao assumir que utilizou a forma livre de um Sterne (autor de A vida e as opiniões de Tristam Shandy), ou de um Xavier de Maistre (Viagem à roda do meu quarto), à qual poderiam ser acrescentadas algumas rabugens de pessimismo, o narrador informa não só o tom ambíguo da narrativa, misto de galhofa e melancolia, como também os autores com os quais seu livro dialogará.
III. Além da discussão metalinguística, pode-se perceber outro ponto central das reflexões do narrador: a importância da opinião pública. A ambição de ser reconhecido por ela leva o personagem Brás Cubas a interferir no texto e a lançar esforços em busca da simpatia dos leitores.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são