Leia o poema “Fraga e sombra”, de Carlos Drummond de Andrade, a seguir.
FRAGA E SOMBRA
A sombra azul da tarde nos confrange.
Baixa, severa, a luz crepuscular.
Um sino toca, e não saber quem tange
é como se este som nascesse do ar.
Música breve, noite longa. O alfange
que sono e sonho ceifa devagar
mal se desenha, fino, ante a falange
das nuvens esquecidas de passar.
Os dois apenas, entre céu e terra,
sentimos o espetáculo do mundo,
feito de mar ausente e abstrata serra.
E calcamos em nós, sob o profundo
instinto de existir, outra mais pura
vontade de anular a criatura.
(ANDRADE, C. D. de. Claro enigma. In: Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: INL, 1983. v. 1. p. 264.)
Sobre o poema, assinale a alternativa correta.