Questão
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
2017
Fase Única
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Leia o poema José, de Carlos Drummond de Andrade.

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou

e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
(...)
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Assinale a alternativa correta sobre o poema.
A
O diálogo com José, interlocutor, pode ser lido como uma forma de o sujeito-lírico refletir sobre o desamparo existencial.
B
O poema em versos curtos apresenta o caminho para superação dos impasses de José.
C
As repetições indicam a monotonia da existência do trabalhador comum, José, em crise com sua condição operária.
D
O sujeito-lírico, na ausência de respostas, não consegue decifrar para onde José marcha, embora este saiba seu caminho.
E
A expressão ''e agora, José''? põe em relevo a indignação do sujeito-lírico com seu interlocutor, incapaz de se definir.