Leia o poema XVIII, de O guardador de rebanhos Alberto Caeiro.
Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...
Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...
Quem me dera que eu fosse os choupos¹ à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...
Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...
Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...
CAEIRO, Alberto. O guardador de rebanhos. In: PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1969, p. 215.
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¹Choupo: árvore de madeira branca e macia.
Nos versos acima, o poeta