Leia o poema a seguir.
Vou-me embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira
Vou-me embora pra
Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra
Pasárgada
Vou-me embora pra
Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma
aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de
Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-
d ́água.
Pra me contar histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra
Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a contracepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Pra gente namorar
E quando eu estiver mais
triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que quero
Na cama que escolherei
Vou me embora pra
Pasárgada.
ESTRELA DA VIDA INTEIRA. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 143.
“Vou-me Embora pra Pasárgada” é um dos poemas mais conhecidos de Manuel Bandeira. Ele expressa uma complexa concepção de temporalidade, na qual o eu lírico busca evadir da realidade para “Pasárgada,” que expressaria a ideia de