Questão
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP
2019
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Leia o poema a seguir, extraído de Claro enigma, de Carlos Drummond de Andrade.

Ingaia Ciência 

A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela, 
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela¹, 

a madureza vê, posto que a venda 
interrompa a surpresa da janela, 
o círculo vazio, onde se estenda, 
e que o mundo converte numa cela. 

A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos ócios, dos quebrantos, 
e nada pode contra sua ciência 

e nem contra si mesma. O agudo olfato, 
o agudo olhar, a mão, livre de encantos, 
se destroem no sonho da existência.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro enigma. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991, p. 18) 

Vocabulário:

¹ estela: coluna de pedra onde os antigos faziam inscrições funerárias. 

A publicação de Claro enigma, em 1951, marca uma série de mudanças em relação à lírica desenvolvida por Carlos Drummond de Andrade nas décadas de 1930 e 1940. Dentre essas mudanças, a análise do poema “Ingaia ciência” permite destacar: 
A
a adoção de imagens poéticas herméticas e ilógicas, característica da vanguarda surrealista, como comprovam os excertos “sabor gratuito de oferenda” e “glacialidade de uma estela”. 
B
a fusão, no plano formal do discurso, entre as poéticas clássica e modernista, por meio do emprego de versos brancos, que conjugam regularidade métrica e ausência de rimas. 
C
a recuperação de procedimentos formais da tradição clássica da literatura em língua portuguesa, como o emprego do soneto em versos decassílabos. 
D
a valorização da estética barroca, evidenciada pela presença de pares antitéticos como “mundo” e “cela”.