Leia o poema a seguir.
O POETA TOCAVA SUA GAITA
O poeta morreu à beira de um rio.
era só o que ele tinha. o seu corpo magro.
e esta beira do rio.
a estrada acordou alegre no dia.
a rua com os sapatos
cheia de anjos e mendigos.
que valia para a cidade e a rua
a morte de um? não é um anjo,
um mendigo? o bar vazio
ficou com as portas semicerradas:
podiam entrar vagabundos e loucos.
a casa que nunca teve a tudo ignorou.
o país do poeta abriu sua boca de tédio,
que morte tal não altera o saldo médio.
la máfia de la ciudad
com essas coisas de poesia
não trama nem confia. não tinha nada!
mas nele havia um relógio
que não se empenhava. havia nele
um pássaro íntegro na sua roupa.
nele, uma nuvem, um peixe.
o poeta tocava sua gaita
que era aberta de ninhos
de aves enlouquecidas! pescador,
olhava a terra alerta de seus ruídos,
amigo dos bichos, tinha andar elegante
e passos de um quase gigante,
sábias mãos no remanso e acalanto
da fala de lúgubre voz; lúcido,
acreditava nos homens, saudava
os operários no 1º de maio,
aos tiranetes do dia, como
os odiava e deles ria!
GARCIA, José Godoy. Poesias. Brasília: Thesaurus Editora, 1999. p. 333- 334.
A representação do poeta como um sujeito ambivalente é comum na poética de Godoy Garcia. No poema transcrito, essa ambivalência se expressa porque o poeta é