Leia o soneto do poeta português Bocage.
Fiei-me nos sorrisos da Ventura,
Em mimos feminis. Como fui louco!
Vi raiar o prazer; porém tão pouco
Momentâneo relâmpago não dura.
No meio agora desta selva escura,
Dentro deste penedo úmido e oco,
Pareço, até no tom lúgubre¹ e rouco,
Triste sombra a carpir na sepultura.
Que estância para mim tão própria é esta!
Causais-me um doce e fúnebre transporte,
Áridos matos, lôbrega² floresta!
Ah!, não me roubou tudo a negra Sorte:
Inda tenho este abrigo, inda me resta
O pranto, a queixa, a solidão e a morte.
(Marisa Lajolo e Ricardo Maranhão. Literatura comentada: Bocage, 1988.)
¹lúgubre: triste, tétrico.
²lôbrego: sombrio, tenebroso.
Interpretando o soneto, é correto concluir que o eu lírico