Leia o texto O gordo e o magro de Fernando Sabino (1923-2004) para responder a questão
Olhei o homem com estranheza e, de repente, tive de me reequilibrar nas pernas para não cair: era mesmo o velho conhecido, eu reconhecia agora. O mesmo, apenas reduzido à metade, numa versão desidratada.
Ele me explicou a natureza do tratamento a que se submetera. Um médico, se não me engano nutricionista (deu-me o nome e endereço, caso eu precisasse, mas, muito obrigado, eu não precisava), lhe impôs uma dieta especial, tudo pesado e medido rigorosamente. Ao fim de algum tempo era capaz de medir pelo olho qualquer alimento que ingerisse, com uma precisão miligramétrica. A par disso, exercícios especiais e um tratamento glandular.
– Pois é isso, perdi com esses 55 quilos a noção de meus verdadeiros limites.
O que me espantava era sua pele ter-se encolhido normalmente, envolvendo um homem franzino como outro qualquer. A menos que ele a tivesse puxado, concentrando as sobras num só desvão do corpo que trouxesse, por exemplo, escondido dentro das calças – e essa ideia me pareceu surrealista por demais para as três horas de uma tarde quente em plena Rua do Ouvidor...
Vi-o afastar-se, não como um fantasma, mas em passinhos lépidos, saltitantes, braços um pouco separados do corpo, como alguém que de um momento para outro fosse bater asas e desgarrar-se do chão.
Essa história de regime para emagrecer tem das suas surpresas. Tempos mais tarde narrei o encontro numa revista e comecei a receber carta de tudo quanto é gordo deste país, pedindo o nome do médico que emagreceu o outro.
(Fernando Sabino. As melhores histórias de Fernando Sabino, 1986. Adaptado.)
Um dos mecanismos para se obter coesão textual é fazer referência a um elemento já mencionado, servindo-se da substituição por outros termos. No texto, o narrador referese ao conhecido que encontra na rua, por meio da seguinte sequência: