A partir do início de 1942, em Auschwitz e nos Lager subordinados (em 1944, cerca de quarenta), o número de controle dos prisioneiros não era mais somente costurado nas roupas, mas tatuado no antebraço esquerdo. […] A operação era pouco dolorosa e não durava mais que um minuto, mas era traumática. Seu significado simbólico estava claro para todos: este é um sinal indelével, daqui não sairão mais; [...] Vocês não têm mais nome: este é seu nome. A violência da tatuagem era gratuita, um fim em si mesmo, pura ofensa: não bastavam os três números de pano costurados nas calças, no casaco e no agasalho de inverno? Não, não bastavam: era preciso algo mais, uma mensagem não verbal, a fim de que o inocente sentisse escrita na carne sua condenação. […] Quarenta anos depois, minha tatuagem se tornou parte do meu corpo. Não me vanglorio dela nem me envergonho, não a exibo nem a escondo. Mostro-a de má vontade a quem me pede por pura curiosidade; prontamente e com ira, a quem se declara incrédulo. Muitas vezes os jovens me perguntam por que não a retiro, e isto me espanta: por que deveria? Não somos muitos no mundo a trazer esse testemunho.
LEVI, P. Os afogados e os sobreviventes. São Paulo/Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016. p. 96-97.
No trecho acima, Primo Levi, italiano que sobreviveu aos campos de concentração nazistas, narra aspectos da sua experiência em Auschwitz que sintetizam um dos objetivos fundamentais dos campos de concentração. Esse objetivo diz respeito