Leia o texto abaixo, que consiste no trecho inicial de “A escrava” - de Maria Firmina dos Reis (1822-1917).
Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e será sempre um grande mal. Dela a decadência do comércio; porque o comércio e a lavoura caminham de mãos dadas, e o escravo não pode fazer florescera lavoura; porque o seu trabalho é forçado. Ele não tem futuro; o seu trabalho não é indenizado; ainda dela nos vem o opróbrio, a vergonha; porque de fronte altiva e desassombrada não podemos encarar as nações livres; por isso que o estigma da escravidão, pelo cruzamento das raças, estampa-se na fronte de todos nós. Embalde procurará um dentre nós, convencer ao estrangeiro que em suas veias não gira uma só gota de sangue escravo...
E depois, o caráter que nos imprime e nos envergonha!
O escravo é olhado por todos como vítima –e o é.
O senhor, que papel representa na opinião social?
O senhor é o verdugo –e esta qualificação é hedionda.
Eu vou narrar-vos, sem e quiserdes prestar atenção, um fato que ultimamente se deu. Poderia citar-vos uma infinidade deles; mas este basta, para provar o que acabo de dizer sobre o algoz e a vítima.
E ela começou:
— Era uma tarde de agosto, bela como um ideal de mulher, poética como um suspiro de virgem, melancólica e suave como sons longínquos deum alaúde misterioso.
Eu cismava, embevecida na beleza natural das alterosas palmeiras que se curvaram gemebundas, ao sopro do vento, que gemia na costa.
E o sol, dardejando seus raios multicores, pendia para o ocaso em rápida carreira.
Não sei que sensações desconhecidas me agitavam, não sei!... Mas sentia-me com disposições para o pranto.
REIS, Maria Firmina de. A escrava. In: Úrsula e outras obras. Brasília: Câmara dos Deputados, 2018 (Edições Câmara; Série Prazer de Ler nº 11, e-book).
A partir do trecho, depreende-se que a visão da escravidão é