Questão
Universidade de Rio Verde - UniRV
2021
Fase Única
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Leia o texto abaixo e responda à questão.

“Aqui há um monte de crimes”, resmungou meu sogro quando se mudou de Iowa para a Califórnia. E havia: no jornal que ele lia. É um jornal que não deixa passar um crimezinho na Califórnia, e que devotaria muito mais espaço a um crime cometido em Iowa do que os maiores jornais de lá.

A conclusão de meu sogro era estatística, de maneira informal. Baseava-se numa amostra, uma amostra extraordinariamente tendenciosa. Como muitas outras estatísticas infinitamente mais ambiciosas e sofisticadas sofria do mal da pré-indicação: considerava que o espaço devotado por um jornal ao crime era uma medida da taxa de criminalidade.

Alguns invernos atrás, uma dúzia de investigadores apresentou independentemente números sobre pílulas anti-histamínicas. Cada um demonstrou que uma considerável percentagem de resfriados curava-se após o tratamento. Criou-se uma grande onda, pelo menos nos anúncios, e iniciou-se mais um “lançamento de sucesso” de um produto médico. Baseava-se numa esperança sempre ressuscitável, e também numa curiosa recusa de examinar as estatísticas passadas sobre um fato já bem conhecido, de longa data. Como o humorista Henry G. Felsen (que não tem qualquer pretensão de ser autoridade médica) indicou recentemente, “um resfriado adequadamente tratado dura sete dias, mas deixado a si mesmo, cura-se em uma semana”.

Assim sucede com muito do que se lê ou se escuta. Médias, relações, tendências, gráficos, tabelas, nem sempre são o que parecem. Pode haver neles mais do que aparentam, mas pode também haver muito menos.

A linguagem secreta da Estatística, com tanto apelo à nossa cultura “baseada em fatos”, é empregada para sensacionalizar, inflar, confundir e supersimplificar. Métodos e termos estatísticos são necessários para relatar os dados das tendências sociais e econômicas, das condições dos negócios, da “opinião”, das pesquisas, dos censos. Mas sem redatores que utilizem as palavras com honestidade e compreensão, e sem leitores que saibam o que significam, o resultado só poderá ser o absurdo semântico.

Nos escritos populares sobre assuntos científicos, a maltratada Estatística está quase substituindo a figura do herói de guarda-pó branco, esbaforindo-se sem parar, sem ganhar horas extras, num sombrio laboratório. A Estatística se parece cada vez mais com o cosmético barato que tenta tornar atraente a amarfanhada cortesã. Uma estatística bem embrulhada, melhor ainda que a “grande mentira” de Hitler, leva a falsas conclusões, mas ninguém pode acusar seu utilizador.

Este livro é uma espécie de cartilha de como utilizar a estatística para enganar. Pode parecer muito com um Manual para Vigaristas. Talvez eu possa justificá-lo como se fosse um arrombador aposentado, cujas reminiscências publicadas equivalessem a um curso de formação de arrombadores de fechaduras com abafamento do som das marteladas: os criminosos já conhecem estes truques; são os homens de bem que precisam aprendê-los, para sua autodefesa.

(𝙷𝚄𝙵𝙵, 𝙳𝚊𝚛𝚛𝚎𝚕. 𝐂𝐨𝐦𝐨 𝐦𝐞𝐧𝐭𝐢𝐫 𝐜𝐨𝐦 𝐞𝐬𝐭𝐚𝐭𝐢𝐬𝐭𝐢𝐜𝐚𝐬. 𝚁𝚒𝚘 𝚍𝚎 𝙹𝚊𝚗𝚎𝚒𝚛𝚘: 𝙴𝚍𝚒𝚌𝚘𝚎𝚜 𝙵𝚒𝚗𝚊𝚗𝚌𝚎𝚒𝚛𝚊𝚜, 𝟷𝟿𝟼𝟾).

Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para a alternativa de acordo com o texto:

O autor inicia o texto contando um caso que serve como ilustração para um de seus argumentos: a estatística, mesmo informalmente, ajuda a compreender melhor a realidade.
C
Certo.
E
Errado.