Questão
Universidade de Rio Verde - UniRV
2023
Fase Única
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Leia o texto abaixo e responda à questão.

Marcelo Gleiser | Quando não existe conflito entre ciência e fé

A diferença entre ciência e fé é a seguinte: em ciência, a gente tem que ver para crer. Você observa a natureza, você observa o mundo, obtém dados sobre como o mundo funciona, analisa esses dados e entende. Pela fé, você crê para ver. A crença vem antes da visão. Você acredita naquilo, nem precisa ver nada, acredita naquilo e esse, essencialmente, é o cerne da fé, que é uma outra maneira de se relacionar com a realidade, muito diferente da ciência.

Infelizmente, hoje em dia, parece que essa questão está novamente a mil com a chamada “guerra” entre a ciência e a religião. Na verdade, essa é uma guerra fabricada, porque, por exemplo, se você pergunta aos cientistas, mais ou menos 40% deles, ao menos nos Estados Unidos — não sei se existe essa estatística no Brasil, talvez seja até maior aqui —, acreditam em alguma forma de divindade, de Deus.

Eles vão para os seus laboratórios e fazem suas pesquisas sem que haja qualquer conflito entre a sua fé e a sua ciência. Ao contrário, dizem que a pesquisa os ajuda a apreciar essa divindade, ou seja, que a pesquisa os aproxima da beleza da natureza, que interpretam como sendo obra de Deus.

Para esses cientistas, existe um compromisso, uma complementaridade entre o seu trabalho e a sua fé. Não existe nenhum problema nesse caso. Mas, infelizmente, existe conflito em outras situações.

Vemos isso quando, por exemplo, grupos religiosos querem interferir no currículo escolar e ensinar, junto com a teoria da evolução, o criacionismo, a interpretação literal da Bíblia.

A criança aprende numa aula que houve toda uma evolução da vida, os fósseis etc., 3,5 bilhões de anos de evolução da vida aqui na Terra enquanto, na outra aula, o professor diz que não. Que em seis dias Deus fez o mundo, que nós somos todos descendentes de Adão e Eva e o mundo tem apenas dez mil anos.

Note que a proposta é que isso seja ensinado em pé de igualdade. São duas versões da mesma história e nenhuma é melhor do que a outra. Mas são, sim, duas histórias muito diferentes, com um objetivo muito diferente. Então, a questão é como é construída a informação na ciência.

No início, falei da questão da universalidade, como, por meio do método científico, usamos o ver para crer e não o crer para ver. A ciência é construída de forma que seja imune à crítica, ao menos após haver verificação de hipóteses por experimentos cujos resultados são aceitos pela comunidade. Não existe espaço para divagações metafísicas. É assim ou não é assim.

O que sabemos da história da vida na Terra é perfeitamente e completamente consistente com a teoria da evolução do Darwin — e com a história do cosmos, a cosmologia, que é minha área principal de pesquisa. É perfeitamente consistente com a teoria do Big Bang, que diz que o universo tem 14 bilhões de anos, e a gente pode datar isso usando nosso conhecimento dos elementos radioativos.

A datação, a questão das datas, é fundamental. Com sabemos que um fóssil tem três milhões ou 15 milhões ou 200 milhões de anos? Estudando a composição química desse fóssil. Por meio dela, identificamos quais são os isótopos radioativos, que são, essencialmente, minirrelógios atômicos que dizem exatamente a idade dos fósseis e de onde vêm. Não existe a possibilidade de um cientista afirmar: eu acho que esse pedaço de osso aqui tem três milhões de anos. Você sabe que tem três milhões de anos, com grande precisão.

Quando você contrapõe isso com uma versão que diz que os dinossauros foram extintos porque não cabiam na arca de Noé, a coisa fica muito... Você não consegue ter um diálogo desse tipo. Por quê? O problema aqui é que as pessoas querem acreditar nisso — e têm todo o direito do mundo de acreditar nisso, só que não podem usar esse tipo de versão como sendo uma versão científica das coisas: são discursos diferentes, com métodos e objetivos diferentes. [...]

Disponível em: www.fronteiras.com/leia/exibir/21-ideias-marcelo-gleiser-e-a-complementaridade-entre-religiao-e-ciencia


Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para a alternativa de acordo com o texto:

O autor critica o fato de que a teoria da evolução e o criacionismo sejam ensinados na escola em pé de igualdade, quando na verdade as duas visões têm objetivos diferentes.
C
Certo.
E
Errado.