Leia os textos abaixo.
I. Em sua autobiografia, Groucho Marx conta a história de um homem que vai ao médico porque sofre de uma depressão incurável. “Sou o homem mais triste do mundo”, ele diz. O médico lhe receita um bom show de humor. “É infalível.” O homem diz que não adianta, nada lhe faz rir. O médico então sugere uma visita ao circo da cidade, onde está se apresentando o melhor palhaço do mundo. “Não há depressão que resista a um show do palhaço Grock.” Ao que o homem responde, inconsolável: “Eu sou o palhaço Grock”.
(DUVIVIER, Gregorio. Put some farofa. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p.186.)
II. “Um dia chegas à enfermaria e lá está, no leito 27, o novo paciente. ‘Logo que vimos o doente’, escreves, ‘impressionou-nos os seus olhos: pareciam que iam saltar fora das órbitas.’ Com estes olhos saltados, o homem te mira; e tu o miras, mas enquanto tu tens de desviar o olhar (é difícil, Oswaldo, suportar a visão da grotesca aparência com que a enfermidade muitas vezes – e triunfantemente – se apresenta), ele poderia ficar te mirando muito tempo, todo o tempo do mundo; pois é todo olhos, este homem; o corpo, que já foi robusto e agora apresenta-se devastado, nada mais é que um suporte para os gigantescos globos oculares.
Tu te aproximas, te apresentas – e, ao fazê-lo, notas em seu pescoço a tumoração. [...] Fala-te, o corpo doente; e, ao mesmo tempo em que se expressa, pede-te: cura-me.
Cura-me, diz o coração que bate acelerado [...]. Cura-me, diz a artéria, que, no pescoço do homem, dança sem cessar. E já que te fala, o corpo, tens de falar também. [...] O que tens são dúvidas, incertezas; não podes mais que perguntar, que indagar. Pedes ao homem que te conte o que aconteceu, como ficou desse jeito.”
(SCLIAR, Moacyr. Sonhos tropicais. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p.37.)
Com base nos trechos transcritos e em outras leituras e experiências de sua vida, REDIJA um texto dissertativo-argumentativo, respondendo a esta questão: “Como deveria se comportar um médico diante de males aparentemente incuráveis?”