Leia o trecho abaixo, de Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Marquez.
Mal tinham começado quando Amaranta percebeu que Remédios, a Bela, estava quase transparente, com uma palidez intensa.
— Você está se sentindo mal? — perguntou.
Remédios, a Bela, que tinha agarrado o lençol pela outra ponta, fez um sorriso de lástima.
— Ao contrário — disse —, nunca me senti melhor.
Acabou de falar e Fernanda sentiu um delicado vento de luz que arrancou os lençóis de suas mãos e os estendeu em toda sua amplitude. Amaranta sentiu um tremor misterioso nas rendas de suas anáguas e tratou de se agarrar no lençol para não cair, no mesmo instante em que Remédios, a Bela, começava a se elevar. Úrsula, já quase cega, foi a única que teve serenidade para identificar a natureza daquele vento irreparável, e deixou os lençóis à mercê da luz, vendo Remédios, a Bela, que dizia adeus com a mão, entre o deslumbrante bater de asas dos lençóis que subiam com ela, que abandonavam com ela o ar dos besouros e das dálias, e passavam com ela através do ar onde as quatro da tarde terminavam, e se perderam com ela para sempre nos altos ares onde não podiam alcançá-la nem os mais altos pássaros da memória.
Os forasteiros, claro, acharam que Remédios, a Bela, havia enfim sucumbido ao seu irrevogável destino de abelha rainha e que sua família tratava de salvar a honra com o engodo da levitação. Fernanda, mordida pela inveja, acabou aceitando o prodígio, e durante muito tempo continuou rogando a Deus que lhe devolvesse os lençóis. A maioria acreditou no milagre, e até acendeu velas e rezou novenas.
Assinale a alternativa correta sobre o fragmento acima, considerando, também, a leitura integral de Cem anos de solidão.