Questão
Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
2017
Fase Única
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Leia um trecho do “Manifesto do Futurismo” publicado por Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944) no ano de 1909.

Nós cantaremos as grandes multidões movimentadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela revolta; as marés multicoloridas e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; a vibração noturna dos arsenais e dos estaleiros sob suas luas elétricas; as estações glutonas comedoras de serpentes que fumam; as usinas suspensas nas nuvens pelos barbantes de suas fumaças; os navios aventureiros farejando o horizonte; as locomotivas de grande peito, que escoucinham os trilhos, como enormes cavalos de aço freados por longos tubos, e o voo deslizante dos aeroplanos, cuja hélice tem os estalos da bandeira e os aplausos da multidão entusiasta.

(Apud Gilberto Mendonça Teles. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro, 1992. Adaptado.)

Em consonância com este preceito do Futurismo estão os seguintes versos, extraídos da produção poética de Fernando Pessoa (1888-1935):
A
Nas cidades a vida é mais pequena 
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. 
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave, 
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para 
[longe de todo o céu, 
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos 
[olhos nos podem dar, 
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
B
Ontem à tarde um homem das cidades 
Falava à porta da estalagem. 
Falava comigo também. 
Falava da justiça e da luta para haver justiça 
E dos operários que sofrem, 
E do trabalho constante, e dos que têm fome, 
E dos ricos, que só têm costas para isso. 
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos 
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia 
O ódio que ele sentia, e a compaixão 
Que ele dizia que sentia.
C
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, 
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, 
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro 
Ouvindo correr o rio e vendo-o. 
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as 
No colo, e que o seu perfume suavize o momento – 
Este momento em que sossegadamente não cremos em 
[nada, 
Pagãos inocentes da decadência.
D
Levando a bordo El-Rei dom Sebastião, 
E erguendo, como um nome, alto o pendão 
Do Império, 
Foi-se a última nau, ao sol aziago 
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago 
Mistério. 
Não voltou mais. A que ilha indescoberta 
Aportou? Voltará da sorte incerta 
Que teve?
E
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. 
Amo-vos carnivoramente, 
Pervertidamente e enroscando a minha vista 
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis, 
Ó coisas todas modernas, 
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima 
Do sistema imediato do Universo! 
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!