Leia um trecho do “Poema em linha reta”, de Álvaro de Campos para responder a questão
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
(Disponível em <http://www.jornaldepoesia.jor.br/fpesso34.html> Acesso em 12 dez. 2020)
A partir da leitura do texto, percebe-se que o eu-lírico
I. se incomoda com a percepção de que é uma pessoa menor que outras, repleta de falhas e defeitos que os outros não ostentam
II. aponta uma falsa perfeição em seus contemporâneos, evidenciada pela comparação com seus próprios defeitos.
III. cria uma sucessão de orações antitéticas à afirmação inicial de que todos seriam campeões, usando termos rebaixados como “reles” e “porco”.
Estão corretas as afirmações