Questão
Universidade de São Paulo - USP - FUVEST
2009
2ª Fase
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Discursiva
Leia o trecho de A cidade e as serras, de Eça de Queirós, e responda ao que se pede. 

Então, de trás da umbreira da taverna, uma grande voz bradou, cavamente, solenemente: 

- Bendito seja o Pai dos Pobres! 

E um estranho velho, de longos cabelos brancos, barbas brancas, que lhe comiam a face cor de tijolo, assomou no vão da porta, apoiado a um bordão, com uma caixa a tiracolo, e cravou em Jacinto dois olhinhos de um brilho negro, que faiscavam. Era o tio João Torrado, o profeta da serra... Logo lhe estendi a mão, que ele apertou, sem despegar de Jacinto os olhos, que se dilatavam mais negros. E mandei vir outro copo, apresentei Jacinto, que corara, embaraçado.

- Pois aqui o tem, o senhor de Tormes, que fez por aí todo esse bem à pobreza. 

O velho atirou para ele bruscamente o braço, que saía, cabeludo e quase negro, de uma manga muito curta.

- A mão! 

E quando Jacinto lha deu, depois de arrancar vivamente a luva, João Torrado longamente lha reteve com um sacudir lento e pensativo, murmurando: 

- Mão real, mão de dar, mão que vem de cima, mão já rara! 

[...] Eu então debrucei a face para ele, mais em confidência: 

- Mas, ó tio João, ouça cá! Sempre é certo você dizer por aí, pelos sítios, que el-rei D. Sebastião voltara?

Eça de Queirós. A cidade e as serras.

a) No trecho, Jacinto é chamado, pelo velho, de “Pai dos Pobres”. Essa qualificação indica que Jacinto mantinha com os pobres da serra uma relação democrática e igualitária? Justifique sua resposta. 

b) Tendo em vista o contexto da obra, explique sucintamente por que o narrador, no final do trecho, se refere a “el-rei D. Sebastião”.