Leia o trecho do poema “Acrobata da dor”, do poeta Cruz e Sousa (1861-1898).
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche¹, salta clown², varado
pelo estertor³ dessa agonia lenta ...
Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa⁴ os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d’aço...
E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso⁵ e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.
(Melhores poemas, 2001.)
¹ gavroche: menino.
² clown: palhaço.
³ estertor: respiração ruidosa dos moribundos.
⁴ retesar: tornar tenso; esticar.
⁵ estuoso: ardente.
O tom predominante nesse soneto é de