Questão
Faculdade Ceres - FACERES
2015
Fase Única
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Leia o trecho abaixo, retirado do conto “O homem com cabeça de papelão”, do escritor brasileiro João do Rio (1881 – 1921):

Nessas disposições, Antenor caminhava por uma rua no centro da cidade, quando os seus olhos descobriram a tabuleta de uma "relojoaria e outros maquinismos delicados de precisão".

Achou graça e entrou. Um cavalheiro grave veio servi-lo.

— Traz algum relógio?

— Trago a minha cabeça.

— Ah! Desarranjada?

— Dizem-no, pelo menos.

— Em todo o caso, há tempo?

— Desde que nasci.

— Talvez imprevisão na montagem das peças.

Não lhe posso dizer nada sem observação de trinta dias e a desmontagem geral. As cabeças como os relógios para regular bem...

Antenor atalhou:

— E o senhor fica com a minha cabeça?

— Se a deixar.

— Pois aqui a tem. Conserte-a. O diabo é que eu não posso andar sem cabeça...

— Claro. Mas, enquanto a arranjo, empresto-lhe uma de papelão.

— Regula?

— É de papelão! explicou o honesto negociante.

Antenor recebeu o número de sua cabeça, enfiou a de papelão, e saiu para a rua.

(Antologia de Humorismo e Sátira. Org. R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1957, pág. 196.)

Já por esse pequeno excerto, é possível perceber que o conto apresenta indícios:
A
De crítica às instituições sociais tradicionais, como casamento e religião, que são ironizadas por meio da figura do homem que concerta cabeças.
B
De ruptura com a tradição literária vigente na época, de vertente neoclássica, por meio da utilização de personagens comuns, que fogem do padrão do herói clássico.
C
Da valorização do diálogo livre, que era uma característica marcante do Romantismo.
D
Do aproveitamento da cultura pagã, que foi, por muito tempo, repelida pelos estilos de vertente teocêntrica.
E
Da presença do estilo fantástico, pois apresenta fatos que seriam impossíveis pela lógica da realidade convencional.