Questão
Faculdade Santa Marcelina - FASM
2016
Fase Única
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Leia o trecho do romance O cortiço.

Depois, via-se a velha Isabel, isto é, Dona Isabel, porque ali na estalagem lhes dispensavam todos certa consideração, privilegiada pelas suas maneiras graves de pessoa que já teve tratamento: uma pobre mulher comida de desgostos. Fora casada com o dono de uma casa de chapéus, que quebrou e suicidou- -se, deixando-lhe uma filha muito doentinha e fraca, a quem Isabel sacrificou tudo para educar,dando-lhe mestre até de francês.

A filha era a flor do cortiço. Chamavam-lhe Pombinha. Bonita, posto que enfermiça e nervosa ao último ponto; loura, muito pálida, com uns modos de menina de boa família. A mãe não lhe permitia lavar, nem engomar, mesmo porque o médico a proibira expressamente.

Tinha o seu noivo, o João da Costa, moço de comércio, estimado do patrão e dos colegas, com muito futuro, e que a adorava e conhecia desde pequenita; mas Dona Isabel não queria que o casamento se fizesse já. É que Pombinha, orçando aliás pelos dezoito anos, não tinha ainda pago à natureza o cruento tributo da puberdade, apesar do zelo da velha e dos sacrifícios que esta fazia para cumprir à risca as prescrições do médico e não faltar à filha o menor desvelo. No entanto, coitadas! daquele casamento dependia a felicidade de ambas, porque o Costa, bem empregado como se achava em casa de um tio seu, de quem mais tarde havia de ser sócio, tencionava, logo que mudasse de estado, restituí-las ao seu primitivo círculo social. A pobre velha desesperava-se com o fato e pedia a Deus, todas as noites, antes de dormir, que as protegesse e conferisse à filha uma graça tão simples que ele fazia, sem distinção de merecimento, a quantas raparigas havia pelo mundo; mas a despeito de tamanho empenho, por coisa nenhuma desta vida consentiria que a sua pequena casasse antes de “ser mulher”, como dizia ela. E “que deixassem lá falar o doutor, entendia que não era decente, nem tinha jeito, dar homem a uma moça que ainda não fora visitada pelas regras! Não! Antes vê-la solteira toda a vida e ficarem ambas curtindo para sempre aquele inferno da estalagem!”

(Aluísio Azevedo. O cortiço, 1981. Adaptado.)

A leitura do texto permite afirmar que
A
Pombinha pretende casar-se logo com João da Costa. Dona Isabel, por sua vez, pretende protelar o casamento, seja por não nutrir admiração pelo futuro genro, seja por esperar que a filha logo seja, de fato, uma mulher.
B
a falência da casa de chapéus teve como consequência a mudança de Dona Isabel e a filha para o cortiço, local de onde não pretendem sair, nem com o casamento desta, para não serem vistas como interesseiras.
C
a vida no cortiço atraiu Dona Isabel e sua filha antes mesmo da falência da fábrica de chapéus, e o convívio no local faz com que a mãe tema que tenha de sair de lá após o casamento de Pombinha com João da Costa.
D
a falência da casa de chapéu não teve nenhum impacto negativo para Dona Isabel, que continuou a cuidar com zelo de sua filha. Ambas aguardam, sem pressa, o momento de Pombinha e João da Costa casarem-se para mudar dali.
E
Dona Isabel e sua filha vivem no cortiço, mas antes tinham uma vida melhor. A solução para saírem da situação em que vivem é o casamento de Pombinha com João da Costa, o que ainda não se realizou porque a menina não se tornou mulher.