Leia os versos de Carlos Drummond de Andrade, pertencentes à obra Claro enigma, e responda ao que é solicitado.
Texto I
Les événements m’ennuient
(Paul Veléry)
(Os acontecimentos me entediam)
Andrade, Carlos Drummond de. Claro enigma. - 1.ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2012. (epígrafe)
Texto II
Oficina irritada
(fragmento)
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Andrade, Carlos Drummond de. Claro enigma. - 1.ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p.38.
Texto III
A máquina do mundo
(fragmentos)
[...]
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado já se carpia.
[...]
Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los
[...]
Mas, como eu relutasse em responder a tal apelo assim maravilhoso,
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio
a esperança mais mínima – esse anelo de ver desvanecida a treva espessa que entre os raios de sol inda se filtra;
[...]
baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.
A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,
se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.
Andrade, Carlos Drummond de. Claro enigma. - 1.ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p.105-10.
a) Justifique a presença do desencanto, nos três textos, com base no registro do contexto histórico em que a obra foi produzida.
b) De que maneira os fragmentos anteriores se relacionam com o pessimismo e o ceticismo machadiano?