“Ler Guimarães Rosa é participar de uma aventura no reino mágico da palavra. (...) O uso que faz da língua resulta simultaneamente de imaginação, sensibilidade, memória, conhecimento, pesquisa, erudição; de „trabalho, trabalho e trabalho‟, para usar sua própria explicação; acrescente-se ainda, com relação ao seu experimentalismo, ousadia, anseio de originalidade e perfeição”. (MARTINS, Nilce Sant ‟Anna. O léxico de Guimarães Rosa. 2 ed. São Paulo: EDUSP, 2001.).
Leia os excertos a seguir, extraídos dos contos de João Guimarães Rosa, do livro Primeiras estórias:
Texto 1 - O espelho
(...) Eu, porém, era um perquiridor imparcial, neutro absolutamente. O caçador do meu próprio aspecto formal, movido por curiosidade, quando não impessoal, desinteressada; para não dizer o urgir científico. Levei meses. (...)
Texto 2 - Famigerado
(...) Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.
_Famigerado é inóxio, é “célebre”, “notório”, “notável”...
_“Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender.
Mas me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa? (...)
Texto 3 - A menina de lã
(...) Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: _ “Ele xurugou?” _ e, vai ver, quem e o que, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. (...)
Texto 4 - A Benfajeza
(...) No que nem pensaram; e não se indagou, a muita coisa. Para quê? A mulher – malandraja, a malacafar, suja de si, misericordiada, tão em velha e feia, feia tonta, no crime não arrependida – e guia de um cego. (...)
Considerando a leitura dos textos acima, analise os enunciados a seguir:
I. Guimarães Rosa é um autor de estilo inovador e audacioso. Ele usa e abusa de inversões e elipses na sintaxe. A partir de vocábulos já existentes na língua, recria, reinventa novas palavras com conteúdos conotativos diversos ou amplia o conteúdo, permitindo, desse modo, que o texto não seja recebido passivamente. Exige que o leitor desempenhe, de certo modo, algum papel na criação estético-artística.
II. As relações que se estabelecem nos processos de formação de palavras utilizados pelo autor têm implicações semânticas resultantes de construções que criam novos significados. Ex.: perquiridor, malandraja, veribérbio.
III. Guimarães Rosa combina o uso de prefixos e sufixos a bases de vocábulos já cristalizados na língua com a intenção de inovar, estender o conteúdo ou criar nova acepção, chamar a atenção do leitor, causar estranhamento, mas sempre com fins expressivos. É o caso de caçoável, farsância, estranhez emisericordiada.
De acordo com os enunciados acima, podemos concluir que: