Manoel por Manoel
“... não fui um menino peralta. Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem.
Quando era criança eu deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto.
Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. [...] Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.
BARROS, Manoel de. Manoel por Manoel. In: Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003
O estudo dos elementos constitutivos dos vocábulos da língua portuguesa permite que percebamos aspectos comuns que nos fornecem algumas pistas para a classificação dos termos. O poeta Manoel de Barros, ciente disso, apresentou-nos a um termo que tem um elemento que indica ação, o resultado de uma ação, situação, estado ou qualidade; identifique-o.