Questão
Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC-PR
2021
Fase Única
Manuel-Bandeira-e1322552e806
Manuel Bandeira é um poeta exemplar para nos mostrar até onde as possibilidades da poesia podem chegar. Leia um excerto do poema Evocação do Recife e, em seguida, assinale a alternativa CORRETA.

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
- Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê
na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!
[...]

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p. 133-134.
A
Bandeira foi precursor do Movimento Modernista, o qual visava uma união do primitivo ao moderno. Influenciado pelas vanguardas europeias, tal movimento, embora se preocupasse em representar o ce-nário atual, o fazia de modo tradicionalista, isto é, valorizando a linguagem e os temas que, paulatina-mente, tornaram-se clássicos da literatura mundial.
B
O poema nos permite perceber que o uso da linguagem cotidiana se tornou, em Bandeira, matéria literária. Essa nova perspectiva alarga o conceito de literatura: trata-se de uma ruptura com as convenções ante-riores, responsáveis por classificações rígidas relativas à linguagem e aos temas considerados poéticos e não poéticos.
C
Assim como em outras poesias do autor, Evocação do Recife revela uma grande proximidade do poeta com a capital pernambucana. Nesse poema, especialmente, o poeta apresenta um Recife de todos, glo-rificado, coletivo e distante, portanto, de suas memórias e recordações íntimas.
D
No terceiro verso, Manuel Bandeira faz referência à Mauritsstad, que é o nome dado por Maurício de Nassau ao Recife durante o domínio holandês. A partir daí, compreende-se o título dado ao poema: evoca-se um Recife enquanto metrópole internacional, a cidade que ganhou o título de Veneza ameri-cana.
E
Há uma profunda distância entre o poeta e os fatos expostos no poema. Tal afirmação é comprovada pela escolha de um eu lírico que se expressa por meio da 3ª pessoa e pela universalidade dos fatos apresentados. Não há, pois, o registro de particularidades, de recordações nem de impressões pessoais.