Os meninos carvoeiros 

Passam a caminho da cidade. 

- Eh, carvoero! 

E vão tocando os animais com um relho enorme. 

Os burros são magrinhos e velhos. 

Cada um leva seis sacos de carvão de lenha. 

A aniagem é toda remendada. 

Os carvões caem. 

(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, 

dobrando-se com um gemido.) 

- Eh, carvoero! 

Só mesmo estas crianças raquíticas 

Vão bem com esses burrinhos descadeirados. 

A madrugada ingênua parece feita para eles... 

Pequenina, ingênua miséria! 

Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se 

brincásseis! 

- Eh, carvoero! 

Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado, 

Encarapitados nas alimárias, 

Apostando corrida, 

Dançando, bamboleando nas cangalhas como 

espantalhos desamparados! 

Manuel Bandeira 

Analisa as seguintes afirmativas. 

I) A poesia denuncia a realidade penosa das crianças brasileiras que trabalham com carvão, realizando atividades típicas dos adultos. O texto coloca essa situação em evidência ao apresentar o rigor da tarefa e o estado de pobreza extrema em que vivem as crianças. Entretanto, o universo infantil é resgatado através do uso de diminutivos, tais como os que aparecem em “magrinhos”, “velhinha” e “burrinho”.

II) Dentre as características das poesias modernistas está a procura de uma “língua brasileira”, ou seja, a língua falada pelo povo nas ruas. No texto de Bandeira, essa peculiaridade aparece, por exemplo, na forma “carvoero” para “carvoeiro”. Na linguagem falada no Brasil, é comum a substituição do ditongo “-ei” por “-e”, como em “mantega” para“manteiga”; “quejo” para “queijo”.

III) No texto, percebemos a frustração do eu-lírico provocada fundamentalmente pelo choque entre o mundo real – marcado pela desigualdade social – e o mundo interior do poeta – caracterizado pela idealização do ser humano. Esse choque produz a evasão para a morte, única maneira, na visão do poeta, de solucionar todos os problemas de ordem econômica verificados no Brasil.

IV) As formas de gerúndio identificadas nos verbos “mordendo”, “apostando”, “dançando” e “bamboleando” dão idéia de continuidade da ação. As crianças apresentadas no texto praticam as atividades expressas por tais verbos de forma ininterrupta, mas por um período de tempo limitado. No caso em questão, o limite está no trajeto de retorno para casa.

Estão corretas apenas