Metonímia – a palavra me ficou na memória desde o ano de 1930, quando publiquei o meu livro de estreia, aquele romance de seca chamado “O Quinze”. Um crítico, examinando a obrinha, censurava-me porque, em certo trecho da história, eu falava que o galã saíra a andar “com o peito entreaberto na blusa”. “Que disparate é esse?”, indagava o sensato homem. “Deve-se dizer é: blusa entreaberta no peito”. Aceitei a correção com humildade e acanhamento, mas aí o meu ilustre professor de Latim, Dr. Matos Peixoto, acudiu em meu consolo. Que estava direito como eu escrevera; que na minha frase eu utilizara uma figura de retórica, a chamada metonímia – tropo que consiste em transladar-se a palavra do seu sentido natural da causa para o efeito, ou do continente para o conteúdo. E citava o exemplo clássico: “taça espumante” – continente pelo conteúdo, pois não é a taça que espuma e sim o vinho. Assim sendo, “peito entreaberto” estava certo, era um simples emprego de metonímia. E juntos, numa nota de jornal, meu mestre e eu silenciamos o crítico. Não sei se o zoilo aprendeu a lição. Eu fui que a não esqueci mais. Volta e meia lá aplico a metonímia – acho mesmo que é ela a minha única ligação com a velha retórica.
QUEIROZ, Raquel de. Metonímia, ou vingança do enganado. In_____ Cenas brasileiras.9. ed. São Paulo: Ática,2003. p.75-83
Em relação à metonímia, avalie os pares a seguir.
I - “Os aviões semeavam a morte” – continente pelo conteúdo.
II - “Que as armas cedam à toga.” – sinal pela coisa significada.
III - “Não resistir ao apelo daquela meiguice” – espécie pelo indivíduo.
IV - “Ganharás o pão com o suor do teu rosto” – efeito pela causa.
É correto apenas o que se afirma em