Questão
Simulado UFPR
2022
Fase Única
Morte-Vida-Severina20656584a98
Em Morte e Vida Severina, o retirante começa seu percurso tendo o rio como um guia para sua rota, na terceira parte do texto, ele diz:

— Antes de sair de casa
aprendi a ladainha
das vilas que vou passar
na minha longa descida.
Sei que há muitas vilas grandes,
cidades que elas são ditas;
sei que há simples arruados,
sei que há vilas pequeninas,
todas formando um rosário
cujas contas fossem vilas,
de que a estrada fosse a linha.
Devo rezar tal rosário
até o mar onde termina,
saltando de conta em conta,
passando de vila em vila.
Vejo agora: não é fácil
seguir essa ladainha;
entre uma conta e outra conta,
entre uma e outra ave-maria,
há certas paragens brancas,
de planta e bicho vazias,
vazias até de donos,
e onde o pé se descaminha.
Não desejo emaranhar
o fio de minha linha
nem que se enrede no pêlo
hirsuto desta caatinga.
Pensei que seguindo o rio
eu jamais me perderia:
ele é o caminho mais certo,
de todos o melhor guia.
Mas como segui-lo agora
que interrompeu a descida?
Vejo que o Capibaribe,
como os rios lá de cima,
é tão pobre que nem sempre
pode cumprir sua sina
e no verão também corta,
com pernas que não caminham.

(MELLO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 186-187.)

Considerando o trecho acima e a leitura integral do auto de João Cabral de Melo Neto, assinale a alternativa correta.
A
A trajetória do personagem é repleta de desafios por conta do cenário socioeconômico que permeia a região por onde Severino passa, de modo que o problema do baixo curso do rio se potencializa, conforme o personagem chega em regiões mais áridas. 
 
B
O personagem adapta-se, em sua caminhada, a um estilo de vida mais urbano, com menos propensão à reflexão sobre os estratos sociais menos abastados, já que Severino se reconhece como um indivíduo em ascensão.  
 
C
O espaço por onde o personagem caminha não é definido, sendo, pois, um cenário imaginário em que é possível realizar qualquer tipo de adaptação, enriquecendo, assim, a perspectiva literária.  
 
D
João Cabral de Mello Neto aborda uma realidade nesse trecho desconhecida pelo autor, o que faz com que ele tenha de desenvolver um texto distópico e com uma forte camada de surrealismo.  
 
E
O final da obra propõe um desfecho surpreendente ao explorar que a sina do personagem estava associada apenas ao nome que ele carregava.