Morte de anciãos indígenas na pandemia pode fazer línguas inteiras desaparecerem
Letícia Mori
Da BBC News Brasil em São Paulo
Um dos mais importantes e respeitados líderes dos povos do Território Indígena do Xingu, Aritana tinha ascendência yawalapiti e kamayurá e falava dez línguas, de pelo menos três troncos linguísticos diferentes.
"Quando meu pai falava comigo em yawalapiti, eu compreendia tudo e respondia em kamayurá, a língua da minha avó, mãe do meu pai", explica Tapi em português, uma das cinco línguas faladas por ele.
Quando seu pai morreu, Tapi estava estudando a língua yawalapiti com Aritana. Sua partida foi um golpe duro para a sobrevivência deste idioma, que está 'em perigo crítico' de desaparecer, segundo a Unesco.
"A perda do meu tio Aritana é a perda de 98% da nossa língua", disse Watatakalu Yawalapiti, sobrinha de Aritana, em uma declaração após a morte do tio.
Tapi explica que ainda há alguns outros falantes da língua yawalapiti vivos — dois tios mais velhos, por exemplo — mas que seu pai tinha um conhecimento mais profundo, mais técnico, que tentava passar para os mais jovens.
A língua yawalapiti não é a única em risco de desaparecer.
O Brasil tem pelo menos 190 idiomas que correm o mesmo risco, segundo o Mapa das Línguas em Perigo da Unesco. A morte de diversos anciãos indígenas, devido à pandemia, torna essa situação ainda mais crítica.
(Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53914416> Acesso em 28 set. 2020)
A partir desse relato sobre a possibilidade de perda de idiomas com a morte de anciãos, evidencia-se que esse patrimônio é: