Movida por uma vontade expressa – chegar a cantões da Amazônia onde nenhum homem houvesse pisado – a sua maior aventura, antes mesmo da construção de um barco, começa e termina dentro de um livro.
O primeiro que vem à cabeça é Genesis, com Noé projetando sua arca, sob o sarcasmo da vizinhança, e se empenhando, já com fama notória de amalucado, em reunir os casais de bichos, quando ainda era imperceptível na linha do horizonte todo e qualquer sinal do dilúvio.
(…)
De todos os livros, todavia, o que mais diretamente parece ter inspirado a decisão de partir e fazer de uma embarcação a sua nova casa é o relato, escrito no século XVI, pouco depois do descobrimento do Brasil, por frei Gaspar de Carvajal, o capelão que viveu e testemunhou a primeira travessia de que se tem notícia do rio Amazonas, da nascente, no Peru, à foz, pelos europeus, liderada por Francisco de Orellana, entre 1540 e 1542. Pois foi com o nome do frei – e o nome na grafia original, Fray Gaspar de Carvajal – que [o escritor Mário Palmério] batizou sua casa itinerante.
(Bernardo de Mendonça. Frei Gaspar de Carvajal volta aos rios, 2011.)
Pelos dados disponíveis no texto, é possível afirmar que