Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (1595 - soneto 092)
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria, e, enfim,
converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.
CAMÕES, Luís de. Rimas (1ª parte). Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963. p. 284. *“soía” (v. 14) - Imperfeito do indicativo do verbo soer, que significa costumar, ser de costume.
Na terceira estrofe, o argumento se organiza a partir de uma figura de linguagem,