Não apenas as origens do texto literário são obscuras. O próprio significado deste pode ser intrigante – inclusive, e principalmente, para o próprio autor, a quem frequentemente se pergunta o que quis dizer com determinado conto, determinado poema. Como se a obra fosse um enigma do qual o escritor, e só o escritor, possui a resposta. O leitor, este, tem de sofrer; o leitor é Édipo ouvindo da esfinge literária o desafio: “Decifra-me ou te devoro” (para estudantes, a segunda alternativa parece muito mais provável). Mas isto é um equívoco. Em relação à sua própria obra, o escritor é como alguém que tem uma ferida no dorso; a lesão está ali, ele a sente, mas não pode vê-la. E, se não tem um espelho à mão, precisa de alguém que lhe diga o que está se passando numa parte de seu corpo que é para ele quase como a face oculta da Lua. Dessa experiência posso dar um testemunho, relativo a um conto chamado Cego e amigo Gedeão à beira da estrada, e que aí vai, com desculpas pelas antigas marcas de carro (o texto foi escrito há muito tempo) e por algumas modificações que depois fiz.
(Uma autobiografia literária. Luis Fernando Verissimo.)
Na construção de significados e objetivos de um texto, é comum que haja construções que consideram a ideia de estratégias linguísticas que permitem alcançar melhor tal objetivo. No texto, acima, percebe-se que