Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem
no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila
seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
— porque o poema,
senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
(Disponível em: https://www.revistabula.com/12068-os-10-melhores-poemas-de-ferreira-gullar/ Acesso em 20 de maio de 2021)
A Literatura Brasileira desempenha papel importante ao suscitar certa reflexão sobre o papel da arte engajada na alteração das perspectivas sociais. No fragmento, essa reflexão ocorre porque o eu lírico: