Não sei quem é pior: o motorista que obedece cegamente o Waze ou o que discute a cada comando.
O primeiro que é inseguro e não é dotado de experiência para assumir as suas próprias decisões ou o segundo que é intolerante e não aceita saber menos.
Estar na carona com os dois personagens é um tormento que estraga a paisagem e o humor.
O motorista que não faz nada além do que o Waze manda tampouco lhe escuta. Pode apontar o melhor trajeto e ele fará o contrário, mesmo que fosse seja o cliente, esteja pagando a corrida e possua seu caminho predileto.
- Pegue, por favor, a primeira à direita.
E ele vai reto, sem nenhuma culpa e remorso.
- Eu pedi à primeira à direita.
E ele responde que o Waze diz que o ideal é seguir sempre.
- Esquece o Waze, eu é que estou dando a rota.
E ele não aceita, só olha para o celular enquanto dirige, e ainda argumenta que eu estou errado, que o Waze escolhe as vias de menor fluxo, ainda que esteja nos colocando em ladeiras absurdas, vielas escuras e numa montanha-russa de quebra-molas.
É o teimoso do Waze, o cabeça-dura do Waze, não sou capaz de entender como ele conduzia o seu veículo antes da invenção do aplicativo. Deve ter tirado a carteira no Google.
Além dele, existe o que discute nervosamente com Waze para realizar exatamente o contrário. Entra numa disputa mental para mostrar que conhece mais o mapa das ruas. Empreende uma gincana, um Imagem-Ação, uma guerrinha ideológica com o tutorial digital. Em toda a viagem, ralha e resmunga:
- Waze nos mandava para lá, mas o correto é para cá.
- Waze é um idiota. Deseja que eu perca tempo.
- Vê o que o Waze está dizendo? É um babaca.
- Economizamos muito não seguindo o Waze, é uma invenção para perder dinheiro.
O que não assimilo é o motivo dele, se domina tanto a cartografia da cidade, não desligar o aplicativo e atender a sua própria sabedoria. Seria mais tranquilo e confortável. Mas ele não pretende guiar e corresponder às expectativas dos passageiros, apenas enlouquecê-los com uma longa DR com a voz feminina de seu celular.
Com ambos os motoristas, a minha vontade é consensual: me ejetar do banco.
Fabrício Carpinejar
(Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/fabricio-carpinejar/post/osdoidos-do-waze.html. Acesso em: 8 de junho de 2021)
Nessa crônica, o efeito de humor é basicamente construído por uma