Nelo, meu irmão, o dinheiro que você manda ela enterra todo no bicho, em estranhos bolos e em prestações que não se acabam nunca. Pensei que depois que pagasse a televisão ia ficar sossegada. Não ficou. Quando você demora de mandar ela fica arrancando os cabelos, sem saber o que faz com tanto cobrador em sua porta. O velho é quem se vira para botar as coisas dentro de casa, coitado, logo ele que vive de biscates, pegando um trabalho aqui, outro ali, quando aparece. Ela ainda reclama. Vive reclamando e dizendo que ele não dá nada em casa. E tome briga. Tome batalha. O dinheiro que você manda se evapora, ninguém lhe vê a cor. Parece um dinheiro excomungado. Tenho pena é dos meninos. Eles passam fome, Nelo. Você precisava ver a miséria que é a vida naquela casa. Papai se queixa da sorte. Diz que a mudança para Feira de Santana foi a pior desgraça da sua vida. Nunca entendeu nada. Nunca entenderá.
(TORRES, Antonio. Essa Terra . Ed. Record. São PAulo, 2011) - fragmento
"Essa Terra" de Antonio Torres, em termos de enredo, aborda: